As Constelações

Edna Maria Esteves da Silva. Coordenadora do Planetário da Universidade Federal de Santa Catarina.   Maio/1999 –  edna.esteves@ufsc.br

O céu estrelado foi talvez a primeira atividade especulativa do homem conforme inscrições e construções em pedra que datam de até 30.000 anos atrás. Neste passado remoto, o céu era observado com espanto, admiração e respeito, provocando profundo sentimento de idolatria. O desconhecimento das causas dos fenômenos astronômicos causava temor. Os astros eram divinos e o céu sagrado servia de morada aos deuses.
Contemplando o céu em noites extremamente límpidas e sem iluminação artificial, os homens inventaram as constelações: figuras imaginárias de seres mitológicos, animais e objetos nos alinhamentos estelares. Cada povo ou tribo tinha as suas próprias constelações e, para memorizá-las criavam mitos.
Vivendo da caça, da pesca e da agricultura, precisavam conhecer detalhadamente o clima, épocas de plantio e de colheita e o céu constelado ajudava imensamente neste sentido. Além de servir como calendário, lembrando épocas do ano, explicava fenômenos naturais. Em especial as constelações zodiacais, surgiram para marcar a trajetória aparente do Sol durante o ano. Partindo da posição em que o Sol estivesse no fundo estrelado, eram feitas correlações diretas com as condições climáticas na Terra e com as estações do ano.
Exemplos característicos são as constelações de Aquário e de Virgem. Aquário, para alguns povos, era associada à época das chuvas, e por consequência, simbolizava fertilidade. Para os egípcios, as cheias do Rio Nilo eram provocadas pelo deus Aquário que anualmente despejava seu gigantesco jarro d’agua nas nascentes do mesmo. Já a Constelação de Virgem, foi assim batizada pois quando o Sol estava nesta região do céu, era época da colheita do trigo, tarefa reservada às moças virgens.
O fundo estrelado foi de fundamental importância para que o homem constatasse as primeiras verdades sobre o Universo. Marcando as posições do Sol, da Lua e dos planetas sobre o fundo das estrelas fixas, deduziu as leis que regem os movimentos planetários e percebendo a regularidade dos movimentos aparentes dos astros, criou o tempo, surgindo assim os primeiros calendários.
Atualmente as constelações não possuem a expressiva significação que tinham na antiguidade. São utilizadas pela Astronomia para indicar direções do Universo e facilitam o reconhecimento do céu. Estrelas brilhantes como Canopus (const. Carina), Formalhaut ( Const. Peixe Austral) e Sírius (Cão Maior) são utilizadas para direcionamento de equipamentos na navegação espacial.
Em 1930 a UAI (União Astronômica Internacional), em virtude da precisão exigida pela moderna Astronomia, dividiu geometricamente o céu estrelado em 88 constelações, preservando os nomes herdados em grande parte de civilizações ocidentais antigas.
Para cada estação do ano temos uma constelação símbolo. Órion: simboliza o verão para o hemisfério sul e o inverno para o hemisfério norte;  Leão: outono para o sul e primavera para o norte; Escorpião: inverno para o sul e verão para o norte; Pégaso: primavera para o sul e outono para o norte.
Revestindo a realidade de mitos, os gregos foram grandes nesta arte. Segundo eles, Órion era um gigante guerreiro e caçador amante da Astronomia, que certa vez desafiou Artemis (Diana para os romanos), a deusa da caça, dizimando os animais da Terra. Indignada com a situação, incumbiu um escorpião de matá-lo. Na luta ambos morreram e em seguida foram transformados pela mesma em constelações.
A constelação do Leão lembrava, para todos os povos antigos, o Sol. O rei dos animais não poderia deixar de ser associado ao astro-rei que quando estava nesta região do céu trazia o verão. Este animal era o Leão de Neméia morto por Hércules num de seus doze trabalhos.
Na constelação de Pégaso está registrada uma bela estória de amor. Pégaso foi o cavalo alado que ajudou Perseu a salvar sua amada Andrômeda das garras de um monstro marinho chamado Cetus. Pégaso nasceu do sangue que jorrou no mar quando Perseu arrancou uma das cabeças da medusa, monstro de várias cabeças que petrificava todos que o olhassem. Montado em seu cavalo alado, Perseu carrega a cabeça arrancada e mira para Cetus petrificando-o e assim salva sua amada.