Telescópio do ESO descobre galáxias presas na “teia” de um buraco negro supermassivo.

02/12/2020 14:04


Com o auxílio do Very Large Telescope (VLT) do ESO, os astrônomos descobriram seis galáxias perto de um buraco negro supermassivo quando o Universo tinha menos de um bilhão de anos de idade. Esta é a primeira vez que um tal grupo é observado tão cedo depois do Big Bang, o que nos ajuda a compreender melhor como é que os buracos negros supermassivos, um dos quais existe no centro da nossa Via Láctea, se formaram e se tornaram tão grandes tão depressa. Estas observações apoiam a teoria de que os buracos negros podem crescer rapidamente dentro de enormes estruturas em forma de teias, alimentando-se das enormes quantidades de gás aí existentes.

Realizamos este trabalho com o objetivo de compreendermos melhor uns dos objetos astronômicos mais desafiantes: os buracos negros supermassivos do Universo primordial. Estes buracos negros são sistemas bastante extremos e até agora não dispomos de nenhuma explicação convincente para a sua existência,” disse Marco Mignoli, astrônomo no Instituto Nacional de Astrofísica (INAF) em Bolonha, Itália, e autor principal da nova pesquisa publicada hoje na revista Astronomy & Astrophysics Letters.

As novas observações obtidas com o Very Large Telescope (VLT) do ESO revelaram várias galáxias em torno de um buraco negro supermassivo, todas elas situadas na “teia de aranha” cósmica de gás que se estende a mais de 300 vezes o tamanho da Via Láctea. “Os filamentos da teia cósmica são como os fios de uma teia de aranha,” explica Mignoli. “As galáxias permanecem e crescem onde os filamentos se cruzam e correntes de gás — disponíveis para alimentar tanto as galáxias como o buraco negro central supermassivo — podem fluir ao longo dos filamentos.

A radiação emitida por esta enorme estrutura em teia, com o seu buraco negro de um bilhão de massas solares, viajou até nós desde uma época em que o Universo tinha apenas 0,9 bilhão de anos. “O nosso trabalho colocou uma peça importante no quebra-cabeça ainda muito incompleto que é a formação e o crescimento destes objetos, tão extremos, mas relativamente abundantes, tão rapidamente depois do Big Bang,” disse o coautor do trabalho Roberto Gilli, também astrônomo no INAF em Bolonha, referindo-se aos buracos negros supermassivos.

Os primeiros buracos negros, que se acredita terem se formado a partir do colapso das primeiras estrelas, devem ter crescido muito depressa para atingirem massas de um bilhão de massas solares apenas nos primeiros 0,9 bilhão de anos da vida do Universo. Os astrônomos têm se esforçado para explicar como quantidades suficientemente grandes de “combustível de buraco negro” poderiam estar disponíveis para permitir que esses objetos crescessem até tamanhos enormes em tão pouco tempo. A estrutura recém-descoberta oferece uma explicação provável: a “teia de aranha” e as galáxias no seu interior contêm gás suficiente para fornecer o combustível de que o buraco negro central precisa para se tornar rapidamente um gigante supermassivo.

Mas como é que estas enormes estruturas em forma de teia se formam inicialmente? Os astrônomos acreditam que os halos gigantes da misteriosa matéria escura sejam a chave. Acredita-se que estas enormes regiões de matéria invisível atraiam enormes quantidades de gás no Universo primitivo; juntos, o gás e a matéria escura invisível, formam estas estruturas do tipo de teias, onde galáxias e buracos negros podem evoluir.

A nossa descoberta apoia a ideia de que os buracos negros mais distantes e massivos se formam e crescem dentro destes halos massivos de matéria escura em estruturas de larga escala e que a ausência de detecções anteriores de tais estruturas se deveu muito provavelmente a limitações observacionais,” disse Colin Norman da Universidade Johns Hopkins em Baltimore, EUA, também coautor do estudo.

As galáxias agora detectadas são algumas das mais fracas que os atuais telescópios conseguem observar. Esta descoberta exigiu observações durante várias horas com os maiores telescópios ópticos disponíveis, incluindo o VLT do ESO. Com o auxílio dos instrumentos MUSE e FORS2 montados no VLT no Observatório do Paranal do ESO, no deserto chileno do Atacama, a equipe confirmou a ligação entre quatro das seis galáxias e o buraco negro. “Acreditamos ter visto apenas a ponta do iceberg e pensamos que as poucas galáxias que descobrimos até agora em torno deste buraco negro supermassivo sejam apenas as mais brilhantes,” comentou a coautora Barbara Balmaverde, astrônoma do INAF em Torino, Itália.

Estes resultados contribuem para compreendermos como é que buracos negros supermassivos e grandes estruturas cósmicas se formam e evoluem. O Extremely Large Telescope do ESO, atualmente em construção no Chile, com os seus poderosos instrumentos será capaz de continuar este trabalho de pesquisa ao observar galáxias ainda mais fracas em torno de buracos negros supermassivos no Universo primordial.

Fonte: https://www.eso.org/public/brazil/news/eso2016/

Elaboração: Max Bilck

Materiais complementares:

Animação da teia do buraco negro supermassivo.

Com o auxílio do Very Large Telescope (VLT) do ESO, os astrônomos descobriram seis galáxias perto de um buraco negro supermassivo, sendo esta a primeira vez que um tal grupo é observado no primeiro bilhão de anos de idade do Universo. Este vídeo artístico mostra o buraco negro central e as galáxias presas na sua “teia” de gás. O buraco negro, que juntamente com o disco que o circunda é conhecido por quasar SDSS J103027.09+052455.0, brilha intensamente à medida que “engole” a matéria que o rodeia.

Crédito: ESO/L. Calçada

Aproximando-se da teia do buraco negro supermassivo.

Esta sequência vídeo nos leva até à teia do buraco negro supermassivo com seis galáxias no seu interior, descoberta no Universo primordial.

Crédito: ESO/Digitized Sky Survey 2/N. Risinger (skysurvey.org). Music: Astral Electronics

Localização da teia do buraco negro supermassivo na constelação do Sextante.

Este mapa mostra a localização de SDSS J103027.09+052455.0, um quasar alimentado por um buraco negro supermassivo rodeado por, pelo menos, seis galáxias na constelação do Sextante. No mapa estão assinaladas a maioria das estrelas visíveis a olho nu sob boas condições de observação e a localizção da estrutura está marcada com um círculo vermelho.

Crédito: ESO, IAU and Sky & Telescope