Reflexos da física moderna

Prof. Nílton de Oliveira Cunha .
Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianópolis,  novembro de 2000

nocunha@mbox1.ufsc.br

Duas conquistas científicas do século que está findando, da maior significação na teoria do conhecimento, a Teoria da Relatividade de Einstein e a Mecânica Quântica iniciada por Bohr, revertem radicalmente as expectativas  do pensamento clássico.
A Física Relativista leva-nos aos espaços siderais, a lugares onde sonhamos estar jamais. Em viagens fantásticas, a altíssimas velocidades, próximas à da luz, que só uma fértil imaginação concebe e conduz. A velocidades que tais, o tempo se comprime enquanto o Universo se expande mais, mostra-se ilimitado mas finito; esfuma-se o tabu, esboroa-se o mito. O relógio eterno não existe mais, o tempo é você quem faz. Se viajo próximo à velocidade da luz – que fato estranho! -, o tempo não passa e eu continuo como antes fui.
A teoria põe em evidência o caráter “relativo” do espaço e do tempo, antes tidos como conceitos “absolutos” – fundamentos basilares da Ciência Clássica.
A Mecânica Quântica mostra uma desconcertante realidade entre as partículas subatômicas, em complexa ou caótica atividade.  Irrequieto, o ente eletrizante move-se a altíssimas velocidades, ora p’ra lá, depois p’ra cá, em ritmo alucinante. O próton tenta atraí-lo e mantê-lo preso na órbita original, assim como a mãe tenta manter o filho peralta nos limites do quintal. Às vezes ele foge, para realizar a mágica – parece miragem! – de  ao mesmo tempo chegar a dois lugares em sua viagem. Quando excitado,  volta a saltitar, em saltos quânticos, o elétron, levando o átomo a irradiar energia em forma de quantum ou fóton. É uma “performance” extraordinária a desta partícula quase imaginária. Mas há um personagem diferente nesse ambiente – chama-se  neutrino. Um ente pequenino que a outro não se une, viaja imune. Atravessa espessas paredes de aço, nada o detém.  Altivo, esnobe, segue sem cansaço, em busca do além.
É a vida em permanente transformação, desde a partícula mais ínfima do átomo, até aos monumentais choques intergaláticos!
Diferentemente das relações lineares, de causa-efeito, e da crença na predição mecanicista, a realidade quântica evidencia descontinuidades, incertezas, paradoxos, inumeráveis interações dinâmicas entre os fatores, responsáveis por fenômenos naturais complexos, como renovação e recriação permanentes, cuja expressão completa define o espetáculo mágico de encanto e beleza exibido no palco da natureza.
O que estes avanços da Ciência e as conseqüentes reflexões filosóficas têm a ver com o homem comum? O que muda em sua vida? É de ver que, sem referenciais absolutos para o espaço e o tempo e sem poder confiar em determinismos nos processos humanos e sociais, passa-se a depender muito mais de uma confiável soma de informações a fim de bem compreender as tendências dos processos, com vistas a planejar as ações individuais e coletivas. Ao compreender que não há uma trajetória única, pré-determinada, a ser seguida inexoravelmente no evolver das sociedades e dos indivíduos, toma-se consciência de que se é ator mas, de alguma forma, também autor dos processos.
Então será possível pensar o presente como única realidade. A memória psicológica é um repositório de percepções ideológicas, contaminadas, incompletas,  frustrantes, do passado. Por isso, distantes da realidade. De outro lado, o presente aponta tendências, mas não assegura certezas no porvir. Logo, obriga-nos a bem administrar o “agora”, de modo a não restar “resíduos psicológicos”.
Cada instante da vida é novo, é uma “singularidade”. Não obstante, para perceber a vida como nova, a mente há de estar liberta dos condiconamentos acumulados. Mente liberta, experimenta-se a leveza do ser; dá-se o despertar da mais fecunda faculdade humana – a de criar.